A Carminho vai ser transferida de urgência para os cuidados intensivos do Santa Maria

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Eram cerca das 9h quando a enfermeira do turno da manhã foi avaliar os sinais vitais à Carminho. Eu continuava com ela no colo, achava que assim a poderia proteger de qualquer coisa que pudesse acontecer, e perguntei à enfermeira se a Carminho ia ser avaliada por um médico. Era um sábado. Explicou-me que ao fim-de-semana não há visita médica no serviço mas que, em caso de necessidade, podiam chamar os pediatras que fazem urgência. Disse-lhe o que pensava. Que achava que a minha filha não estava bem, estava notavelmente a fazer um esforço respiratório tremendo e que dado o estado em que ela entrou na urgência na tarde anterior achava que ela deveria ser avaliada. Concordou comigo. Pediu-me que aguardássemos um pouco, que ia ficar atenta e que em caso de necessidade chamaria.

Deitei a Carminho no berço apenas para trocar de roupa e voltei a sentar-me na cadeira com ela no colo. Ela não tinha descansado praticamente nada, apenas dormindo por curtos períodos e via que estava exausta. As saturações dela continuavam na casa dos 70/80 a fazer oxigénio e por volta das 10h quando a enfermeira veio novamente avaliar a Carminho disse que realmente não estava a gostar do estado dela e que ia telefonar para a urgência para pedir às pediatras que subissem. Agradeci com vontade de a abraçar e fazer uma festa. Estava a ver a situação a agravar imenso e cada vez tinha mais medo. 

Poucos (mas mesmo poucos) minutos depois tinha duas pediatras no quarto a avaliar a Carminho. Pediram análises e RX. E foi tudo feito muito rapidamente. No espaço de tempo de meia hora estavam feitas as análises e o RX. Tínhamos que esperar pelos resultados que ainda iriam demorar algum tempo e aproveitei para ir a casa tomar um banho e trocar de roupa enquanto o pai ficou no hospital. 

Vivemos a cerca de 10m de carro do hospital. Queria ser o mais rápida possível e por isso cheguei a casa e fui imediatamente tomar banho. No final ainda tinha que deixar tudo pronto para o pai vestir a Constança e levá-la à festinha de natal da creche. Era a primeira festinha dela e eu não ia estar lá. Tinha acabado de sair do banho quando tocou o telefone. Era o meu marido. Estava com uma voz aflita e só conseguiu dizer: anda rápido! A Carminho vai ser transferida de urgência para os cuidados intensivos  do Santa Maria em Lisboa. Fiz várias perguntas como: Porquê? O que tem ela? O que te disseram? Como é que ela está? Mas não sabia mais nada porque ainda não lhe tinham dito mais nada. 

Vesti-me a correr enquanto chorava compulsivamente e fui para o hospital. No cruzamento a seguir à minha casa estava a GNR a fazer uma operação STOP e eu parei. Estava a chorar e pedi por favor que me deixasse ir embora explicando rapidamente a situação. O agente podia ter desconfiado de mim mas em vez disso só me pediu que tentasse ficar calma e que dirigisse com cuidado. Lembro-me de ter pensado no quão ele tinha sido bom e compreensivo. 

Pelo caminho só conseguia repetir vezes sem conta: porquê que a minha filha tem que estar a passar por isto? Ela não merecia mais esta luta depois de tudo o que já sofreu! Tinha uma revolta que nem consigo explicar. Tínhamos tido tanto cuidado para ela não ficar doente que aquilo não podia ter acontecido. 


Cheguei ao hospital e mal saí do carro desatei a correr até chegar ao corredor da pediatria. Quando atravessei a porta já estava a Carminho a sair dentro de uma incubadora acompanhada por médicos e enfermeiros da pediatria e da neonatologia. Perguntei o que se estava a passar e para onde a estavam a levar. A enfermeira da neonatologia, que já me era tão familiar, deu-me um abraço apertado e disse-me que a iam levar para a neonatologia. Que iam ter que a ventilar. E sem me adiantarem mais nada seguiram com ela enquanto eu e o meu marido ficamos ali a chorar em pânico. 

A noite na pediatria

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Após o episódio de urgência em que encontramos uma excelente equipa e conseguiram estabilizar a Carminho, subimos para o internamento de pediatra. Fomos encaminhadas para a sala de tratamentos e acolhidas por duas enfermeiras de extrema simpatia. Tinham definido um quarto partilhado com um menino de dez anos que estaria com uma gastroenterite mas mal viram a Carminho disseram que iriam mudá-la para um quarto isolado. Era um risco enorme tê-la num quarto partilhado. Começaram a monitoriza-la mas ela era tão pequena que tiveram que pedir algum material à neonatologia e todo o processo ocupou-as imenso tempo. 

Passado cerca de 1h fomos encaminhadas ao quarto. Deveriam ser 20h30/21h. Perguntei qual era o diagnóstico da Carminho. Foram ler os registos da médica e disseram-me que o que estava escrito era “falta de ar”. Pensei para mim: como é que a minha filha tinha entrado no estado em que entrou e o diagnóstico era “falta de ar”. Mas logo de seguida pensei que isso era irrelevante e que o importante era ela ficar bem. O turno terminou às 24h e até essa hora foram incansáveis passando várias vezes no quarto para avaliar a Carminho e perguntar se estava tudo bem. Até aí ela estava aparentemente bem.

A Carminho estava num berço e eu tinha um sofá cama, que abri e estendi os lençóis para tentar descansar um pouco. Por volta das 00h30, após ter trocado de roupa, ia deitar-me mas antes fui-lhe dar um beijo. Quando lhe toquei com os lábios na testa percebi que estava a escaldar. Toquei à campainha. Alguns minutos depois entrou uma auxiliar e pedi-lhe por favor que chamasse alguém da equipa de enfermagem porque a minha filha estava com febre. Algum tempo depois entraram no quarto e após avaliarem os sinais vitais disseram que iam administrar paracetamol porque estava efectivamente com febre. Foi-lhe administrado e fiquei com ela no colo à espera que a temperatura baixasse. Cerca de 1h depois o quadro começou a agravar-se, as saturações de oxigénio começaram a baixar, não saiam da casa dos 70/80 (o normal para a Carminho seria acima dos 92) mesmo estando a fazer oxigénio. O monitor não parava de alarmar. Associado a esta baixa estava ainda uma respiração muito ruidosa e notava-se perfeitamente que estava em esforço respiratório. 




Toquei novamente e esperei. Não vinha ninguém . Voltei a tocar. Alguns minutos depois veio novamente a auxiliar e pedi que chamassem os enfermeiros. Disse-me que estavam a fazer a ronda e que iriam demorar. Expliquei a situação e disse que era urgente. De pouco adiantou. Passaram seguramente 20m e não entrava minguem no quarto. Comecei a desesperar. Toquei novamente. Veio novamente a auxiliar. Já de forma rude disse-me que já tinha chamado os enfermeiros mas que eu tinha que esperar porque estavam ocupados. Pedi por favor que lhes dissesse que as saturações não subiam e que a Carminho não estava bem. Senti-me muito impotente em não poder ajudá-la. E
Reconheço que dois enfermeiros para um serviço com tantas crianças é muito pouco mas não consigo justificar tanta demora após eu ter dito que era urgente. A Carminho tinha estado entre a vida e a morte poucas horas antes. Vieram algum tempo depois. Avaliaram novamente a temperatura e tinha baixado um pouco. Aumentaram o débito de oxigénio e disseram que era normal as saturações estarem baixas devido à temperatura. Até aí tudo bem. Mas não era só isso. O esforço respiratório dela era imenso e aquele ruído não era normal. Disseram que voltariam para a aspirar visto que estava cheia de secreções e já não era aspirada desde as 17h. 

Mantive-me com ela no colo sentada e aguardei que o aumento do débito de oxigénio a ajudasse. A questão é que o tempo ia passando e não via melhoras nenhumas. Continuava tudo na mesma. Ela não dormia e por muito ridículo que isto possa parecer os olhinhos dela não se desviavam dos meus e parecia que estava a pedir-me ajuda. As saturações de oxigénio continuavam na casa dos 70/80, ela não queria mamar e eu estava cada vez com mais medo. Era visível que a minha filha não estava bem. Aguardei que viessem aspira-la mas como já tinham passado umas 2h (eram sensivelmente 4h30) e não veio ninguém voltei a tocar. O processo foi o mesmo: auxiliar, espera, enfermeiros. Com a diferença que desta vez não tive que esperar tanto tempo. Perguntei se não era melhor ser avaliada por um médico. Disseram que não era necessário e repetiram-me que todos aqueles sinais eram normais e que eu nao precisava de ficar apreensiva. Não me convenciam. A Carminho não estava bem e eu estava a entrar em pânico. Desatei a chorar. E assim fiquei, a chorar com ela no colo, até às 9h me ter entrado a enfermeira do turno da manhã no quarto. Tinha tido a pior noite da minha vida e tinha esperança que esta enfermeira nos ajudasse. 

Hoje sei que essa enfermeira, da qual não me consigo lembrar do rosto depois da azáfama que foi esse dia mas lembro-me perfeitamente do nome, foi um dos anjos responsáveis pela salvação da minha filha. E se não fosse ela a ter-me dado ouvidos e a ter visto que a Carminho definitivamente não estava bem, a Carminho hoje não estava cá. Não estava mesmo! Porque o que aconteceu na noite anterior levou a Carminho ao limite da vida e deixou-lhe sequelas até hoje. 

15 de Dezembro: a terceira vez em que pensei que ia perder a Carminho

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Era uma sexta-feira. Aproveitei que estavam as duas a dormir a sesta para limpar a casa. Como elas tinham obrigatoriamente que comer de 3/3h eu punha o despertador para nunca me esquecer da próxima mamada. Tinha posto o despertador para a próxima vez que teria que dar o leite à Carminho e como geralmente a sesta delas era longa deixei-me estar descontraída a pôr a casa em ordem. Tocou o despertador e fui preparar o biberão. De seguida fui acordar a Carminho. 

Quando cheguei à beira do berço para acordar a Carminho vi que ela estava pálida, branca como a neve. Comecei a fazer-lhe festinhas na cara na tentativa de a acordar e mal lhe toquei a primeira vez senti que estava gelada. De repente deixei de raciocinar e comecei a abana-la freneticamente enquanto chamava bem alto por ela. Não respondia aos estímulos, não abria os olhos, não se mexia. Pensei que o pior tinha acontecido, pensei mesmo que a minha filha tinha morrido e desatei a chorar. Peguei nela ao colo e embrulhei-a numa cobertor quente. Continuei a tentar acorda-la já em pânico. De repente ouvi um gemido muito leve, tão tênue que pensei que o tinha imaginado. Mas não! Ela repetiu. Peguei no telefone e liguei ao 112. Aquelas perguntas todas que a pessoa que estava do outro lado da linha me estava a fazer eram uma autêntica perda de tempo naquele momento. Quando estamos aflitos queremos ajuda e não um bombardeamento de perguntas. Eu precisava de ajuda urgente! Lá me disse que ia enviar ajuda ao local. Tentei dar o biberão mas não reagia. Senti que a estava a perder a cada segundo que passava. 

Poucos minutos depois chegou a ambulância da Cruz Vermelha. Fiquei indignada quando os vi sozinhos sem a VMER. A minha filha não ia aguentar até ao hospital sem ajuda. Entrei para a ambulância e um dos tripulantes disse-me que a VMER estava a caminho. Fiquei mais sossegada. Arrancamos e uns metros mais à frente ouvi a sirene da VMER. Paramos na berma da estrada e estivemos 1h parados com o médico e o enfermeiro a fazer tudo pela Carminho. Picaram várias vezes e ela nem reagia. Ao fim de cerca de 1h arrancamos com os dois na ambulância à beira da Carminho. Eu tinha passado para o banco da frente mas os meus olhos continuavam focados naquela bebe tão pequenina que estava novamente a ser posta à prova. 

Chegamos ao hospital e ouvi o médico a dizer: via verde, sala de reanimação. E nesse momento entrei em choque. Até ali sempre tive noção de que era grave mas no meio de tanta azáfama ainda não tinha conseguido pensar e só naquele momento é que pus os pés bem assentes na terra. Ouvir “sala de reanimação”, atravessar o corredor da urgência apinhado de pessoas com os olhos postos na maca que acabava de entrar, ver a minha bebe perdida naquela maca tão grande a ser levada sem mim para aquela sala fez-me desabar. Nunca imaginei viver aquele pesadelo, nem que um dia aquele filme pudesse ser o meu. 

À entrada da sala de reanimação já nos esperavam rostos que me eram bastante conhecidos, as enfermeiras da urgência pediátrica e um médico da neonatologia. Entraram todos a acompanhar a Carminho com o médico e o enfermeiro da VMER. Entretanto foram entrando e saindo mais elementos da equipa da urgência. Eu fiquei mesmo à porta acompanhada pela tripulante da ambulância que foi incansável comigo, já não tinha mais o que me fazer para me consolar. 

Passado algum tempo saíram os dois elementos da VMER e também ficaram algum tempo comigo a tentar confortar-me. Agradeci-lhes por terem salvo a vida da Carminho. Não tenho dúvidas de que esteve na corda bamba dentro daquela ambulância e que eles foram os elementos chave para que ela tivesse entrado com vida no hospital.
Bastante tempo depois levaram-na a fazer um  RX e no final a enfermeira disse-me que a Carminho já está estabilizada e que ia subir para o internamento. Questionei se ia para a neonatologia ou para a pediatria e disse-me que ia para a pediatria visto já ter dois meses por idade corrigida mas que realmente fazia sentido ir para a neonatologia visto ser tão pequena, nem 2kg pesava, e tendo em conta que umas duas semanas antes foi internada na neonatologia quando se engasgou. Falou com a médica mas esta disse prontamente que ia para a pediatria porque já não tinha idade para a neonatologia. 

Pensei que o pior já tinha passado mas o pior ainda estava para vir.



Primeira consulta: primeira suspeita

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As consultas de crianças prematuras são imensas. E se por um lado até aborrece termos que estar sempre a correr para consultas por outro lado sentimo-nos muito mais seguros. 

Para além das consultas regulares no sistema nacional de saúde temos o contacto de todos os médicos e podemos ligar sempre que haja alguma intercorrência e seja necessário avalia-las antes da data da próxima consulta. Desde a alta que as nossas filhas são muito bem acompanhadas e vigiadas e estamos muito gratos por isso. Sempre fomos bem informados acerca de diagnósticos e envolvidos em todas as tomadas de decisões. Sempre sentimos que havia um trabalho de equipa entre nós pais, médicos e enfermeiros. 

Como elas tiveram alta a meio do outono o tempo já estava mais frio e já estávamos a entrar na época de gripes, constipações, infeções respiratórias, pelo que eram um motivo de preocupação para nós as salas de espera dos hospitais. Confesso que entrava mesmo em stress tal era o medo de poderem levar algum bicharoco para casa, o que no caso delas era muito preocupante. E se a maior parte das consultas eram na maternidade, onde maioritariamente estavam crianças, havia três especialidades que eram no Santo António, onde as salas de espera estavam repletas de adultos.

A primeira consulta da Carminho foi cerca de duas semanas após a alta. Ela era tão pequenina que na sala de espera quando a tirei da babycoque para lhe dar o biberão perguntaram se era um bebé real ou um nenuco. Ia a uma consulta de neonatologia e como aparentemente estava tudo bem não fui apreensiva. Após a avaliação a médica suspeita de uma displasia (ou luxação) da anca e encaminhou-a para ortopedia. Se se confirmasse, o que seria quase certo, a Carminho iria ter que usar uma tala, durante três meses, para corrigir. Não que fosse algo muito grave mas lembro-me de pensar que já chegava, que a Carminho já tinha tido a dose dela. 


No dia da consulta lá fomos nós ao Santo António para ser avaliada por ortopedia. A consulta era ao final da manhã e os médicos só estavam lá de manhã nesse dia. Chovia a cântaros e por azar apanhámos um acidente na via rápida entre Viana e o Porto e estivemos quase 2h em fila. Chegamos ao hospital tardissimo mas tirei a senha e aguardei até ser chamada pela administrativa para perguntar se ainda teria consulta. Mal entrei na sala de espera e a vi apinhada de pessoas, tinha seguramente cerca de 100 pessoas, passou-me tudo pela cabeça mas o que mais pensava era no famoso vírus sincicial respiratório que os médicos tanto me falavam. É um vírus com uma taxa de mortalidade elevada em prematuros e elas estavam a apanhar uma vacina mensal durante os meses de inverno para o prevenir. 

Encostei-me a um canto mais isolado para tentar evitar estar muito próximo das outras pessoas. A Carminho nem 2kg tinha e era um risco enorme. Passado cerca de meia hora chegou a nossa vez e a administrativa disse que já não estava lá o médico, já tinha terminado as consultas. Fiquei para morrer. Apesar de saber que o atraso foi nosso e o médico não tinha culpa nenhuma custava muito saber que tirei a minha filha de casa num dia de chuva e frio, desloquei-me ao Porto e esteve a pôr-se a jeito na sala de espera em vão. Viemos sem consulta e ficaram de enviar uma nova convocatória. 


Mas o pior estava para vir. Quatro dias depois o que eu mais temia aconteceu. 

Ser Mãe: o papel mais exigente, mais difícil mas o melhor da minha vida

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Obrigada minhas filhas por me fazerem Mãe,
Por me fazerem desempenhar o papel mais exigente, mais difícil mas o melhor da minha vida. 
Obrigada por me fazerem uma pessoa mais compreensiva quando naquelas noites difíceis consigo respirar fundo, não descompensar e perceber que se vocês não dormem é porque algo não está bem. 
Obrigada por me fazerem uma pessoa mais paciente quando tenho que lidar com as vossas birras e guerrilhas sem perder o auto-controlo e quando o perco, porque também acontece, conseguir perceber que errei e pedir desculpa.
Obrigada por me fazerem uma pessoa mais flexível, capaz de perceber as vossas vontades e tentar argumentar quando não estou de acordo com elas.
Obrigada por me fazerem uma pessoa mais responsável porque tenho três seres que dependem de mim para tudo e não lhes posso falhar.
Obrigada por me fazerem uma pessoa mais forte capaz de lutar contra um leão para vos defender e proteger.
Obrigada por me fazerem uma pessoa mais tolerante capaz de perceber que sois só crianças e que o vosso maior objetivo é o divertimento.
Obrigada por me fazerem superar diariamente e entender que o cansaço físico pode sempre esperar mais um pouco e que mãe não pode estar doente.
Obrigada por me fazerem perceber que os meus braços são capazes de se multiplicarem para vos dar colo as três.
Obrigada por me fazerem perceber o que realmente interessa e deixar de aborrecer com coisas fúteis.
Obrigada por me fazerem perceber que é preciso tão pouco para ser feliz e por me mostrarem que a felicidade está nas pequenas coisas.
Obrigada por me fazerem andar sempre a mil e mesmo assim perceber que apesar do dia só ter 24h é possível dar resposta a tudo.
Obrigada por me fazerem perceber que o tempo de qualidade é o tempo que passo convosco.
Obrigada por me fazerem perceber que apesar de vocês serem três eu consigo dar conta do recado. 
Obrigada por me fazerem argumentar quando preciso de vos dizer não e o não apenas não é suficiente.
Obrigada por me ensinarem a ignorar os olhares e as críticas dos outros quando vos comportais menos bem.
Obrigada por terem mudado as prioridades da minha vida.
Obrigada pelos abraços apertados, pelos beijinhos cheios de baba, pelos miminhos e por me dizerem “gosto muito de ti”.
Obrigada pelas vossas gargalhadas que são a melhor musica que eu posso ouvir.
Obrigada por me ensinarem a lutar e a importância da vida.
Obrigada pelo vosso olhar de admiração.
Obrigada por me terem tornado uma melhor pessoa.
Obrigada por revelarem o melhor de mim.
Obrigada por me fazerem ainda mais feliz.
Obrigada por me fazerem sentir o amor mais puro, incondicional e eterno.
Obrigada pela vossa capacidade de perdoar e por me amarem mesmo quando ralho convosco. 
Obrigada por me terem escolhido para vossa mãe e por me permitirem fazer parte das vossas vidas.
Não sou a mãe perfeita mas sou a melhor que consigo ser e todos os dias luto para ser uma melhor mãe. O maior objetivo da minha vida é fazer-vos e ver-vos felizes. 


Amo-vos daqui até à lua.

Já em casa pensei que as perdia

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Na neonatologia já nos tinham dito que é normal um prematuro bolçar bastante, nunca pensamos é que seria tanto. A Carlota dava-nos a impressão que bolçava a totalidade do leite que ingeria. Cada vez que mamava tinha que mudar a roupa porque se molhava toda.

A primeira vez que aconteceu foi num dia à tarde, cerca de uma semana depois de ter tido alta. Estava a dormir ao meu lado no sofá, de barriga para cima como é aconselhado, e de repente começou a mexer freneticamente os braços. Olhei para ela e percebi que estava a deitar um pouco de leite pela boca, que não conseguia respirar e que estava a mudar de cor. Estava engasgada com o leite. Temi o pior. Instintivamente virei-a ao contrário, pousei-a sobre a minha mão esquerda e com a direita comecei a dar-lhe palmadas nas costas (é a chamada Manobra de Heimlich). Não reagiu tão rápido quanto eu queria e naquele desespero meia dúzia de segundos parecem horas. Ao fim de alguns segundos começou a tossir, a chorar e a expelir o leite pela boca. Coloquei-a encostada ao meu peito. Tal como eu estava assustada. E só depois de reverter a situação é que entrei em choque. Pensei mesmo que a podia perder. O que raio tinha acabado de acontecer? Sabia perfeitamente o que tinha sido mas estava incrédula. E se eu não estivesse ao lado dela? E se fosse durante a noite e eu não acordasse? E se fosse durante o tempo que eu passava no hospital com a Carminho e a minha mãe não ia saber actuar? A minha filha podia ter morrido.

Os minutos que se seguiram ao pós choque foram de decisões. Devo levar à urgência para ser avaliada? Não me parecia boa ideia porque era muito arriscado para um prematuro. Devo ligar ao pediatra? Ou devo aguardar e estar atenta nas próximas horas. Ela estava reactiva, bem disposta e alimentou-se normalmente a seguir por isso aparentemente estava tudo bem. 

Instalou-se o medo. Sabia que podia voltar a acontecer e tinha medo de não me aperceber e agir atempadamente. Dei uma explicação à minha mãe caso acontecesse durante o tempo em que eu não estivesse e passei a dormir mesmo mal para poder estar atenta. E aconteceu. Não uma, nem duas mas bastantes vezes. A segunda vez levei-a urgência mas como ela era amamentada com o meu leite não havia nada a fazer. Só mais tarde o pediatra sugeriu que extraísse o meu leite e adicionasse espessante. Foi remédio santo. Para além disso passei a deita-la de lado (que não é mesmo aconselhado mas no desespero fiz) e nunca mais aconteceu. 

Quando a Carminho teve alta a Carlota já não tinha estes episódios há algum tempo. Mas uns dias depois eis que o mesmo acontece com a Carminho. Também num dia à tarde a vejo a mexer freneticamente os braços e todos os restantes sinais iguais a Carlota. A mesma reação da minha parte e o mesmo choque imediatamente a seguir. No caso da Carminho chamei o INEM. Ficou prostrado, sonolenta e com uma respiração ruidosa. Valeu-nos mais duas noites na neonatologia em observação e uma alta com indicação para dar leite materno com espessante ou leite adaptado AR. Mesmo assim ainda teve uns cinco episódios. 


A coisa em que eu mais pensava era que se eu não soubesse como agir no momento era claro que  a ambulância não conseguia chegar a tempo. E depois de tudo o que elas já tinha passado podia te-las perdido. Foram sustos de morte e um medo incontrolável.