Primeira consulta: primeira suspeita

As consultas de crianças prematuras são imensas. E se por um lado até aborrece termos que estar sempre a correr para consultas por outro lado sentimo-nos muito mais seguros. 

Para além das consultas regulares no sistema nacional de saúde temos o contacto de todos os médicos e podemos ligar sempre que haja alguma intercorrência e seja necessário avalia-las antes da data da próxima consulta. Desde a alta que as nossas filhas são muito bem acompanhadas e vigiadas e estamos muito gratos por isso. Sempre fomos bem informados acerca de diagnósticos e envolvidos em todas as tomadas de decisões. Sempre sentimos que havia um trabalho de equipa entre nós pais, médicos e enfermeiros. 

Como elas tiveram alta a meio do outono o tempo já estava mais frio e já estávamos a entrar na época de gripes, constipações, infeções respiratórias, pelo que eram um motivo de preocupação para nós as salas de espera dos hospitais. Confesso que entrava mesmo em stress tal era o medo de poderem levar algum bicharoco para casa, o que no caso delas era muito preocupante. E se a maior parte das consultas eram na maternidade, onde maioritariamente estavam crianças, havia três especialidades que eram no Santo António, onde as salas de espera estavam repletas de adultos.

A primeira consulta da Carminho foi cerca de duas semanas após a alta. Ela era tão pequenina que na sala de espera quando a tirei da babycoque para lhe dar o biberão perguntaram se era um bebé real ou um nenuco. Ia a uma consulta de neonatologia e como aparentemente estava tudo bem não fui apreensiva. Após a avaliação a médica suspeita de uma displasia (ou luxação) da anca e encaminhou-a para ortopedia. Se se confirmasse, o que seria quase certo, a Carminho iria ter que usar uma tala, durante três meses, para corrigir. Não que fosse algo muito grave mas lembro-me de pensar que já chegava, que a Carminho já tinha tido a dose dela. 


No dia da consulta lá fomos nós ao Santo António para ser avaliada por ortopedia. A consulta era ao final da manhã e os médicos só estavam lá de manhã nesse dia. Chovia a cântaros e por azar apanhámos um acidente na via rápida entre Viana e o Porto e estivemos quase 2h em fila. Chegamos ao hospital tardissimo mas tirei a senha e aguardei até ser chamada pela administrativa para perguntar se ainda teria consulta. Mal entrei na sala de espera e a vi apinhada de pessoas, tinha seguramente cerca de 100 pessoas, passou-me tudo pela cabeça mas o que mais pensava era no famoso vírus sincicial respiratório que os médicos tanto me falavam. É um vírus com uma taxa de mortalidade elevada em prematuros e elas estavam a apanhar uma vacina mensal durante os meses de inverno para o prevenir. 

Encostei-me a um canto mais isolado para tentar evitar estar muito próximo das outras pessoas. A Carminho nem 2kg tinha e era um risco enorme. Passado cerca de meia hora chegou a nossa vez e a administrativa disse que já não estava lá o médico, já tinha terminado as consultas. Fiquei para morrer. Apesar de saber que o atraso foi nosso e o médico não tinha culpa nenhuma custava muito saber que tirei a minha filha de casa num dia de chuva e frio, desloquei-me ao Porto e esteve a pôr-se a jeito na sala de espera em vão. Viemos sem consulta e ficaram de enviar uma nova convocatória. 


Mas o pior estava para vir. Quatro dias depois o que eu mais temia aconteceu. 

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