O dia-a-dia com três crianças

Muitas mães de primeira viagem, legitimamente, ficam ansiosas quando se veem sozinhas com um recém nascido em casa. Ninguém nasce ensinado e é tudo uma novidade. É uma mudança radical na vida de um casal e a adaptação nem sempre é fácil.

Não fiquei ansiosa quando tive alta com a Constança e reconheço que até dei bem conta do recado mas foi uma mudança tão grande na nossa vida que mexeu muito comigo.

Era uma bebé muito desejada mas nunca ninguém nos tinha dito o quão difícil era ser mãe. A quantidade de vezes que eles choram, comem e fazem cocos. A quantidade de vezes que temos que acordar durante a noite. A quantidade de vezes que temos que sair a meio do banho para lhes socorrer. A quantidade de vezes que deixamos queimar a comida, comemos comida fria ou comemos por turnos para não a deixar chorar. A quantidade de vezes que pomos roupa a lavar, secar e arrumamos a casa com ela ao colo. A quantidade de vezes que suplicamos por conseguir dormir 2h seguidas. A quantidade de vezes que temos que mudar de roupa porque o leite nos ensopa a roupa. A dor nos pontos infectados de um pós parto (nem me conseguia sentar).

Ser mãe é difícil e ninguém nos prepara para isso. Só nos pintam o lado colorido e embora seja verdade que o amor e o sorriso de um filho compensem tudo não posso negar que chorei muito nos primeiros tempos da Constança. Sentia-me exausta e sabia que não tinha tempo para parar porque ela precisava de mim a tempo inteiro.

Quando as duas gémeas tiveram alta e tínhamos três crianças pequenas, totalmente dependentes de nós para tudo, lembrei-me dos primeiros tempos da Constança e pensei nas dificuldades que ia encontrar. A questão é que os pais de segunda viagem já têm outro traquejo, já estão calejados e já adquirem outras estratégias para lidar com as situações. Os pais de gémeos então são pessoas muito mais práticas e descontraidas, se assim não fosse enlouqueciam. 

Com três crianças nunca senti as dificuldades que senti quando tinha apenas uma. O que mais me custou foi não ter braços para as três quando choravam ao mesmo tempo e reconheço que a Constança foi sempre a mais prejudicada porque como era a mais crescida era a que tinha que esperar mais tempo, até eu sossegar as irmãs. Nada me custava mais do que isso e do que não ter mais tempo para dedicar a cada uma isoladamente. Passamos muitas noites em que não sabemos se chegamos a dormir porque entre acordar uma e depois outra e adormecerem depois de comer só dormitávamos uns 50 minutos por noite. Não posso negar que os primeiros tempos foram cansativos. O dia-a-dia era passado exclusivamente a mudar fraldas, amamentar, adormecer, banho, mudanças de roupa, dar colinho. Tivemos que encontrar um equilíbrio que passou por estabelecer rotinas e dividir bem as tarefas entre o casal. As horas de alimentação, horas da sesta e horas de dormir à noite passaram a ser cumpridos religiosamente. Assim como as tarefas entre o casal, cada um sabe exactamente o que tem que fazer e os horários (por exemplo, o pai dá banhos e a mãe as sopas). Só assim conseguimos ter tempo de qualidade com elas e para nós.


Vinte meses depois continua a ser cansativo e quem nos vê fora de casa com as miúdas comenta que não sabem como aguentamos mas verdade é que já está entranhado a nós e somos o mais descontraído possível. Nunca fomos daqueles pais de fazermos uma prova de velocidade para chegar ao pé delas cada vez que uma cai. Caiu, levanta-se. Desde cedo que tentamos incutir-lhes o máximo de  autonomia. A Constança começou a comer com colher aos 9 meses, com 12 meses comia com garfo sozinha. As gémeas desde os 10 meses que comem sozinhas, primeiro com a mão e agora com garfo/colher. Ajudam a pôr a mesa e arrumar a cozinha. Arrumam os próprios brinquedos. A Constança desde que deixou a fralda que vai sozinha ao quarto de banho e já se veste sozinha quando são roupas mais práticas. 

A pior parte do dia é de manhã para as vestir que mais parece um campeonato de judo e transpiro todo os dias e os finais de tarde em que já começam a mostrar sinais de cansaço e ficam mais birrentas. Há dias de enlouquecer. Mas todos os dias, entre eu e o pai, conseguimos dedicar 2/3h exclusivamente a brincar com elas. É o que nós chamamos de tempo de qualidade e do qual não prescindimos. Só o conseguimos graças à gestão que fazemos das tarefas domésticas. 


E hoje sabemos que realmente todo o cansaço é compensado.

1 comentário :