Neonatologia | O aleitamento materno e a prematuridade

A reação à amamentação é muito diferente de mulher para mulher. Conheço mulheres que adoraram amamentar e outras que nunca gostaram. Apesar de haver um forte incentivo à amamentação, por todos os benefícios que esta traz para o bebé, e uma forte pressão social, considero legítimo gostar ou não de amamentar, independentemente do motivo, e decidir se se quer ou não amamentar. Concordo com toda a campanha que fazem em prol do aleitamento materno, só não concordo quando falam num aumento do vínculo entre a mãe e o bebé. Não acho que seja por uma mãe amamentar que terá um vínculo maior e muito menos que ame mais o seu filho ou que seja melhor mãe do que uma mãe que não amamente.

Eu faço parte do leque de mães que não gostaram de amamentar. Nunca tive infecções, gretas, tensão mamaria, apenas não gostava. Apesar disso amamentei a Constança até aos 12 meses e só parei por indicação médica no dia em que soube que estava grávida. Durante esses 12 meses tinha imenso leite, tanto leite que conseguia amamentar e ainda conseguia extrair uma média de 750ml de leite por dia. Congelei litros e litros de leite que foi utilizado quando fui trabalhar e à posteriori quando tive que parar de amamentar. Até aos 17 meses todo o leite que a Constança bebeu foi leite materno. Isto porque apesar de eu não gostar de todo de amamentar, de ser um sacrifico fazê-lo e um sacrifício ainda maior extrair leite, sentia que era meu dever fazê-lo e propus-me a continuar já que era mais benéfico para ela. 


Quando as gêmeas nasceram decidi que o caminho seria o mesmo, amamentar até que tivesse leite. Sendo prematuras não pude amamenta-las logo desde o nascimento, contudo tive que começar logo no primeiro dia a extrair leite. Primeiro para estimular a produção de leite e depois para lhes ser administrado assim que pudessem começar a alimentar-se com o meu leite. Como na primeira gestação tive imenso leite pensei que na segunda fosse igual. Só que não! O facto das minhas filhas não mamarem não havia o mesmo estímulo para produzir. É muito diferente o estímulo dado pela sucção do bebé e por uma máquina de extrair. Se na primeira gestação conseguia tirar 250ml em 5 minutos, na segunda gestação precisava de espremer (literalmente) gota a gota durante mais de 30 minutos para tirar 50/100ml e o processo era doloroso. Como sabia da extrema importância que o meu leite tinha para as minhas filhas usei todas as estratégias possíveis e imaginárias para conseguir ter mais leite. Desde tomar medicação, a beber cervejas sem álcool, a tirar leite enquanto olhava para as fotografias das minhas filhas, a massajar e espremer, tudo o que estava ao meu alcance e me era aconselhado pelos enfermeiros era válido mas com pouco sucesso, o meu corpo não respondia como eu desejava. O factor stress e o cansaço eram antídotos potentes. 


Conseguir deixar leite para as duas bebés para 24h começou a ser quase uma obsessão para mim. Numa fase inicial era fácil atingir esse objetivo visto que elas bebiam uma média de 1ml de 6/6h. Mas à medida que foram aumentado a quantidade e a frequência foi-se tornando mais complicado. Em casa nunca consegui tirar mais de 100ml (na melhor das hipóteses) e embora as enfermeiras me dissessem que era para tirar de 3/3h eu tentava quase de meia em meia hora para conseguir o máximo de leite. Assim que chegava ao hospital e via as minhas filhas, depois de passar algum tempo com elas ia até à sala de extração de leite e tirava um ou dois biberões cheios num estalar de dedos. É incrível como o nosso corpo e a nossa mente são fantásticos.

A extração de leite num hospital também não é de todo uma experiência muito simpática. Há uma salinha pequena com três máquinas e estão três mulheres frente a frente numa mesa sem privacidade a tentar tirar leite. Para amenizar as coisas acabava também por ser a sala das partilhas e das dúvidas. Era ali que, de mamas ao léu, conversávamos e trocávamos ideias, informações e que muitas vezes nos consolávamos e dávamos apoio mútuo umas às outras. 

Quando a Carlota começou a mamar, às 4 semanas, notei imediatamente um aumento na produção de leite mas mesmo assim nada que se comparasse à quantidade de leite que tive na primeira gestação. Consegui amamenta-las com leite materno até aos quatro meses e meio, altura em que fiquei sem leite, mas não em exclusivo. A partir dos dois meses houve necessidade da Carlota começar a fazer leite adaptado (especial para prematuros) intercalado com o leite materno para que eu conseguisse tirar leite suficiente para a Carminho que naquela fase precisava mais do leite materno. Quando a Carminho teve alta começou também a fazer leite adaptado intervalando com o leite materno. Não consegui amamentar durante o tempo que desejava mas fiz tudo o que estava ao meu alcance para conseguir ir o mais longe possível. 

1 comentário :

  1. Revejo me em tudo... não tenho filhos prematuros mas tenho 3.. é muito perto todos ... com pouca diferença de idades... do primeiro tb tinha leite PA ele e para mais 20 bebés��... guardei leite sem fim no congelador... e o que gastei só para conseguir suportar as dores e as gretas .. . Ia para o chuveiro tempo sem fim... do segundo foi mais Soft.. . Mas mesmo assim doloroso... agora do terceiro é mais fácil mas quando preciso de tirar por ter de sair nunca consigo... parece "castigo"... e quando menos espero lá consigo encher biberões sem medida... muita sorte sempre em toda a sua vida.. muita saúde para as meninas e que a Carminho va sempre progredindo .. um beijinho especial a todos... família linda

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