Gravidez | Paralisia cerebral?!

Sem muitos rodeios diz-nos que uma das sequelas da restrição grave de crescimento intra uterino é a paralisia cerebral. Como?! Disse-nos que gostava de preparar os pais para o que viesse e de lhes pôr os pés bem assentes na terra. E essa era a nossa realidade. Havia uma probabilidade da Carminho nascer com paralisia cerebral. Naquele momento quem paralisou completamente fomos nós. Olhamos um para o outro e começamos a chorar. De tudo o que já tínhamos vivido e de tudo o que já nos tinha sido dito aquela era a maior bomba que nos tinham lançado. A partir daquele momento e até à primeira ecografia cerebral feita à Carminho eu nunca mais tive sossego. Aquela informação martelava na minha cabeça a toda a hora. Só me passavam na cabeça, como se fossem slides, imagens de crianças com paralisia cerebral. Era minha filha e eu ia amá-la e cuidar dela, se realmente se confirmasse, mas ia ser muito difícil de aceitar e de me adaptar. Não vou ser hipocrita, ninguém sonha ter um filho com paralisia cerebral. Aliás, quando engravidámos, ninguém expecta ter um filho com qualquer problema de saúde. Mas a paralisia cerebral é algo que afecta todo o núcleo familiar e acima de tudo aquela criança. É viver para aquele filho. E aquela criança viver assim a vida toda! Dependente de terceiros, sem autonomia e com todos os problemas de saúde inerentes à paralisia cerebral. E naqueles dias pensei muito nas mães que se viam com esse diagnóstico confirmado e no quanto devem ter sofrido até adaptarem a sua vida a esta nova vida. Essas sim são mães coragem!

Nessa noite fiquei em vigilância no núcleo de partos, é onde ficam as mães em trabalho de parto. Ficamos numa cama separadas por cortinas, de frente para a secretária das enfermeiras. Do outro lado do corredor estão as salas de partos. Não dormi rigorosamente nada. Vi todas as mães que chegaram, ouvi todos os partos. Perdi a conta ao número de bebés que nasceram naquela madrugada. Não me podia pôr a pé. No dia seguinte, sábado, deram-me banho na cama e após avaliação médica subi para o internamento. Continuava a fazer medicação para impedir as contrações e a indicação de permanecer deitada mantinha-se. Só podia levantar-me para ir ao WC. Passava 70% do meu dia a fazer CTG. Como a Carminho era muito pequenina era difícil conseguir apanhar o traçado dela e por isso repetiam vezes e vezes sem conta. Honestamente já nada me interessava. Ja não me importava de quanto tempo ia ficar internada, de ter que permanecer deitada (apesar da dor nas costas). A minha única preocupação era a Carminho nascer sem sequelas. 

Quando me disseram que ia subir para o internamento fiquei mesmo feliz, assim ia poder receber a visita da minha filha para me dar algum alento e alegrar o meu dia. Esteve comigo grande parte da tarde e quando olhava para ela e pensava “e se fosse ela com paralisia cerebral?” tinha a certeza que a amaria com a mesma intensidade. Mas que qualidade de vida teria ela?


Era a parte do dia que passava mais rápido. E mal foi embora o meu pensamento voltou para a Carminho. Ao início da noite voltei a ter contrações fortes e pouco espaçadas, era o stress a manifestar-se novamente. Fui avaliada e mantinha os três dedos de dilatação. Eram boas notícias mas tinha mesmo que me acalmar. Não podia piorar a situação. No dia seguinte, domingo (dia de aniversário do meu marido, a minha filha voltou a passar a tarde comigo. Apesar de não me poder levantar ela ficava sentada ao meu lado na cama e era o período mais feliz do meu dia. Nessa noite comecei a perder sangue em pequenas quantidades. Fui novamente avaliada mas aparentemente estava tudo bem. Durante a segunda-feira mantive a perda mas continuava tudo bem. 

Era dia 31 de Julho e a minha companheira de quarto, uma belíssima pessoa, agendou nesse dia a cesariana para o dia 2 de Agosto e eu não pude evitar de sonhar com o dia de ouvir a médica a agendar o meu parto, consciente de que só queria que nascessem em Outubro. Mas nessa madrugada as minhas filhas mudaram todo o rumo!

O médico tinha-nos perguntado se sabíamos quais as sequelas da restrição grave de crescimento da Carminho. Nunca ninguém nos tinha falado em sequelas. Apenas, obviamente, que nasceria muito mais pequena do que a irmã e de que isso lhe poderia trazer complicações depois do parto. Mas afinal quais eram as sequelas? 

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