Gravidez | E a Carminho não dava tréguas

Ao contrário da ecografia morfológica da Constança, em que ia apreensiva porque só fazia duas ecografias por trimestre, desta vez ia muito calma. Fazia ecografias todas as semanas e a única coisa que poderia acrescentar esta ecografia era avaliar com mais rigor a anatomia das bebés e verificar se a Carminho estava a crescer normalmente. Sabia que a Síndrome de Transfusão Feto Fetal poderia reincidir mas estava francamente confiante de que isso não iria acontecer. Aparentemente não havia motivos para mais preocupações. 

Em ecografias de gémeos avalia-se primeiro um feto e só depois o outro e são identificados como 1 e 2 (a ordem é a ordem com que nascem). Só passam a ter nome a partir do momento em que nascem. A primeira vez neste processo todo em que me perguntaram o nome delas foi na sala de partos para as identificarem.


A ecografia começou e o médico foi dizendo que estava tudo bem com a Carlota. Depois de avaliar todos os parâmetros e verificar que aparentemente não havia alterações começou a avaliação à Carminho. Estava a crescer dentro do que seria previsível, mantendo a sua curva de crescimento, contudo mantinha uma restrição de crescimento grave o que já fazia prever que fosse nascer abaixo do peso e que não iria escapar a uns dias na neonatologia. O líquido amniótico tinha aumentado bastante desde a última ecografia e os rins e bexiga estavam normais. Excelentes notícias. A minha piolha estava fora de perigo! Ou não. 


Como ela não é rapariga de deixar a mãe descansada por muito tempo tinha que se meter noutra alhada. Ou noutras alhadas! Normalmente o cordão umbilical possuí duas artérias e um vaso. O da Carminho tinha uma artéria umbilical única. Pelo que me explicou o médico isto não acarreta problemas de maior para o feto mas pode estar associado a outro tipo de problemas como problemas cardíacos e Síndrome de Down, por exemplo. Nesta altura devia ter entrado em pânico. Só não entrei porque em Londres, através do sangue que colheram aos fetos, tinham descartado completamente a possibilidade de Síndrome de Down e esse exame é 100% fiável. Em contrapartida quando o médico fez a avaliação do coração verificou que havia outro problema e que ia ter que me enviar para o Hospital de Braga novamente. A Carminho tinha um derrame pericárdico, basicamente tinha acumulado líquido entre as membranas do coração, tinha que ser seguida lá por Cardiologia Pediátrica para realizar ecocardiografia fetal. E aqui sim havia riscos, um comprometimento da função cardíaca. 


O médico para brincar um pouco e atenuar a minha preocupação ainda disse algo do género: - Esta rapariga não nos facilita a vida! Tentei não stressar e brinquei: - Depois disto tudo vai ficar de castigo até aos 18 anos!!


À parte disso estava tudo, aparentemente, bem. Como a Carminho tinha uma restrição de crescimento grave era importante fazer algum repouso para ela engordar. Isto é muito fácil quando não se tem uma filha de 14 meses em casa a precisar de mimo e colo da mãe. Não poder dar colo à Constança quando ela suplicava por ele era o que mais me magoava. 


Mais um pedido de consulta urgente para o Hospital de Braga e em poucos dias recebi uma chamada com a marcação da consulta. Sabia que esta situação poderia reverter naturalmente até nascer e por isso tentei não entrar em pânico. Comparativamente aos problemas anteriores este não era o que mais me assustava. E depois mentalizei-me que o problema já estava lá e que o facto de eu stressar não iria mudar rigorosamente nada e por isso continuei a minha vida naturalmente, embora tentando estar o máximo de tempo possível sentada ou deitada.


Uma semana depois tive consulta e confirmou-se, tinha um derrame pericárdico. E numa breve explicação a médica disse-me que realmente poderia reverter até nascer e caso não revertesse depois de nascer continuava a ser vigiada a fim de se perceber quais as próximas intervenções. Como não sou de fazer uma tempestade num copo de água estava calma e optimista que ia correr tudo bem.  Iria ter consultas regularmente no Hospital de Braga para fazer ecocardiografia fetal. Mediante a evolução iria verificar-se se seria conveniente nascerem em Braga. Esta parte já não me agradava tanto. Tinha tido uma óptima experiência na obstetrícia em Viana quando a Constança nasceu e queria muito que as pequenas também nascessem lá. O factor distância também pesava muito até porque a probabilidade da Carminho ir para a neonatologia era elevada e não me agradava muito a ideia de ir para tão longe todos os dias com mais duas crianças em casa. Em Viana a logística seria bem mais fácil. Mas se nascer em Braga era o melhor para a Carminho então que fosse em Braga. 


Como as coisas, apesar de tudo, estavam bem encaminhadas aproveitamos um fim de semana prolongado para umas mini férias fantásticas na Costa Vicentina. Fui sem pensar nos riscos, descontraidament. Só quando regressei é que pensei no tamanho da loucura que cometi! Se as pequenas tivessem decidido nascer naquele fim de semana o que seria de nós com as nossas filhas prematuras internadas a mais de 400km de casa? Mas como acho sempre que essas coisas só acontecem aos outros fui sem qualquer receio nem preocupação. Nunca pus a hipótese das minhas filhas nascerem antes das 36 semanas, depois do susto inicial acreditava piamente que ia ter uma gravidez perfeitamente normal até ao final. E como ainda acredito no Pai Natal também acreditava que a Carminho ia dar um pulo e nem sequer ia precisar de passar pela neonatologia. Se tivesse lido mais testemunhos reais ia perceber que ter uma gravidez normal, sem necessidade de internamento, e nascer depois das 36 semanas é algo raro numa gravidez monocoriónica.




Uma semana depois tive novamente consulta de Cardiologia Pediátrica e o derrame estava a regredir lentamente. Iria ser reavaliada duas semanas depois mas essa consulta nunca chegou a acontecer porque entretanto a nossa vida deu uma volta de 180 graus.  

1 comentário :

  1. A Carminho não vos deixava mesno sossegar... aguardo ansiosamente pelo próximo post, para saber que reviravolta foi essa ☺

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