Gravidez | Chegou o dia de saber quantos corações batiam dentro da minha barriga

As minhas consultas de obstetrícia eram sempre à terça-feira. Já tinha passado por terças-feiras difíceis e cheias de ansiedade mas esta era aquela em que estava mais nervosa. As noites que seguiram ao tratamento foram muito mal dormidas sempre a pensar se havia ou não vida dentro do meu útero, se estariam as duas vivas ou apensas uma. A noite que antecedeu a consulta foi a pior. Levantei-me de manhã sem ter percebido se tinha chegado a adormecer. O meu coração batia tão rápido e forte que parece que ia sair disparado. Durante esses dias fui tentado interiorizar que não adiantava de nada estar ansiosa, que o que tivesse que ser seria e não havia forma de eu fazer nada e que aquele stress era prejudicial para os bebés. Mas como é que se controla isto? 

Fomos levar a Constança à creche e seguimos para o hospital. Quando cheguei à sala de espera o nervosismo disparou. Uma grávida de gémeos já em fase avançada da gravidez estava a tentar conversar comigo e eu geralmente até sou muito faladora mas naquele dia não conseguia ter um raciocínio lógico nem um discurso fluente. Só lhe pedi desculpa por estar tão nervosa e não estar a dizer nada de jeito. Por azar nesse dia fui a última, pelo menos das que estavam na sala de espera, a ser atendida. Fui chamada ao início da tarde. Entrei e o médico quis saber pormenores do tratamento em Londres e fui contando meia atabalhoada enquanto ele lia o relatório. Ficou incrédulo com aquilo que lhe contei (os pormenores do tratamento) e nas consultas seguintes falava sempre acerca disso ora comigo, ora com colegas médicos que estivessem com ele no gabinete. 

E chegou o momento! Deitei-me na marquesa e era a hora de saber o que se passava dentro da minha barriga. Começou por avaliar o feto maior e disse-me que estava ótimo. Líquido amniótico com volume perfeito, bexiga bem, fluxos normais, tudo óptimo. - Que bom doutor! Mas e o outro? Não me chega um com vida, eu quero os dois! 

Procurou então com o ecografo o segundo e depois de algum tempo diz-me que aquele pequenino estava a ir muito bem. (A ir muito bem?! Está vivo? Está vivo!!  Eu sabia que depois de tanto sofrimento só podia acabar tudo bem!). Desatei a chorar. Os meus bebés estavam vivos! E já não ouvia mais nada do que o médico dizia. Já só passava no meu cérebro a palavra “vivos”. Contra todas as probabilidades eles superaram-se. Que orgulho da garra de viver destes dois! 

O médico continuou a avaliar minuciosamente e foi dizendo que a bexiga já tinha aumentado de volume, o líquido amniótico já estava a aumentar e agora estava confiante que aos poucos ele ia desenvolver. Que não ia conseguir apanhar o percentil do outro mas ia desenvolver dentro do seu percentil. 

Como as coisas já estavam a estabilizar quisemos então saber o sexo. O médico ainda brincou a dizer que estivemos em Londres com uma câmara apontada para eles e que aí é que se via tudo mas explicamos o porquê de não querermos saber (ler no post anterior).  

- Qual é a vossa preferência? 

- Meninas! (Dissemos os dois. Embora naquele momento e depois de tudo já nos era quase indiferente e queríamos era que viessem com saúde)

- Pronto! Elas fizeram-lhes a vontade!

E assim, ao fim de tanto tempo conseguimos ter um dia feliz. Voltava a ter consulta na semana seguinte para fazer a ecografia morfológica. 

Tivemos uma semana muito tranquila. Finalmente ia ter uma gravidez normal.Aproveitei para começar a pensar no enxoval e para escolhermos os nomes. Antes de eu saber que eram meninas já tinha dito que se fossem meninas e eu pudesse escolher sozinha seriam Carlota e Carminho. Carlota sempre foi o meu nome de eleição já na gravidez da Constança mas o pai não achava piada e tive que excluir da minha lista. Começou a soar-lhe bem entretanto e aceitou que uma se chamasse Carlota. Carminho foi mais complicado. A segunda opção (em comum) para a Constança era Teresa (que continuo a adorar e vou guardar para a próxima quando me sair o Euromilhões!!!) e manteve-se como uma opção para a segunda gêmea. Eu gostava também de Carolina e Benedita (que faria todo o sentido pelo significado do nome) mas o pai não gostava de nenhum dos dois e excluímos. Como esta bebé era muito pequenina chegamos à conclusão que Carminho era o nome que mais se identificava com ela. E tínhamos um feito! Aos quatro meses e meio tínhamos escolhido os nomes (a Constança só teve fumo branco  aos sete meses e meio!). 

Como já nos fomos habituando essa felicidade e estabilidade só durou até ao dia da ecografia morfológica.

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