Após a alta da Carminho e a adaptação ao ventilador as coisas finalmente acalmaram. Fechamos definitivamente as portas dos internamentos. As secreções mantinham-se e os cuidados em casa também mas sem intercorrencias. Fizemos a introdução da papa e da sopa, aos oito meses de idade real e cinco meses e meio de idade corrigida, e correu lindamente com ambas as gémeas. A Carminho pode finalmente retirar a sonda nasogástrica porque começou a comer o suficiente sem necessidade de lhe dar o restante pela sonda.
A única coisa aborrecida era a tala que usava para correção da luxação da anca. Foram quatro meses sem poder tomar banho de banheira, quatro meses sem se poder sentar, sem se poder deitar de lado ou de barriga para baixo. Estava totalmente limitada de movimentos.
Ao fim de quatro meses fomos à última consulta de ortopedia para retirar a tala e saber se tinha surtido o efeito desejado ou não. Tinha nessa altura nove meses. O médico dela não estava e foi avaliada por outro médico. Fez o RX como habitualmente e quando o médico o viu deu-nos um valente murro no estômago. A anca não estava no sítio, a Carminho teria que ser operada. Mas como não era ele o médico dela pediu que mantivesse a tala e que voltássemos na semana seguinte para o médico dela avaliar e decidir ele próprio.
Assim foi, mais uma semana com a tala. Voltamos à consulta convictos do que iria acontecer, sem expectativas de que numa semana tivesse havido um milagre. E confirmou-se! A Carminho iria ser operada dali a uma semana. Ainda perguntei ao médico se não podia esperar duas semanas porque tinha marcado o baptizado das gémeas para o fim de semana a seguir à cirurgia e tinha receio que a menina tivesse dor e não estivesse confortável mas ele achou que deveria ser o quanto antes. E se tinha que ser era o que iria ser.
Apesar de nos terem dito, no dia em que lhe colocaram a tala aos cinco meses, que com a idade dela dificilmente iria conseguir corrigir com a tala, fizemos tudo tão direitinho que tínhamos mesmo a esperança de que a Carminho não precisasse de passar por uma cirurgia. O sacrifício que ela passou durante quatro meses e a limitação a que esteve sujeita merecia outro desfecho. Foi um autêntico balde de água fria. Aquele pisco de nem 4kg ia ter que ir ao bloco. Efectivamente esta miúda era constantemente posta à prova e parecia que tudo lhe acontecia.
Passou uma semana sem tala e aproveitamos todos os dias para lhe dar um bom banho de banheira e deixá-la brincar na água à vontade. Mas à medida que o dia da cirurgia se ia aproximando o nosso coração ia ficando mais apertado.